O Jeep

Para os mais antigos um Jeep pode lembrar guerras, ou de filmes romanceados de guerras, principalmente a segunda guerra mundial ou o conflito do Vietnam. Talvez todo o charme deste carro tenha vindo daí, da sua sempre “imbatível” força que o deixava indestrutível em alguns filmes, e um salvador de vida em outros.

Faço parte de uma geração que teve o privilégio de dirigir estes veículos durante a ditadura militar, no serviço militar obrigatório, que chegaram ao Brasil como “restos” de guerras. Sim, nada se perde em uma guerra, principalmente pela indústria de armas e veículos militares que vendem para o terceiro mundo máquinas como Jeep, os heróis sendo repassados a seus admiradores.

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Mas como eu dirigi um deles, posso afirmar, não que são heróis de verdade, mas sim máquinas maravilhosas para quem gosta de adrenalina e aventuras. Quem tem um Jeep sabe do que estou falando. No exército, o fuzil era como uma parte do meu corpo, uma extensão acrescentada assim que “fui alistado”. Do mesmo modo, mas com muito mais diversão, um  motorista dentro do quartel recebia um veículo que deveria ser como sua família, mas na caserna. Cada item do veículo tinha quer ser inspecionado pelo mecânico e confirmado pelo motorista. Seus pneus, suspensão, combustível, eram verificados todos os dias, assim que o motorista responsável se apoderava do seu Jeep. A companhia constante nas revisões fazia do motorista um mecânico de emergência, ou de “guerra”, como costumavam dizer. Ele deveria saber consertar seu Jeep em qualquer circunstância. Por que era assim?

o Jeep

Do mesmo modo que um “Jipeiro” dos dias de hoje, um soldado em guerra podia estar em local ermo, sem nenhum tipo de assistência básica para o seu Jeep. Nos dois casos existem trilhas, caminhos no meio do mato, que se diferenciam do verde em volta apenas pela cor da terra – quando é assim. Por isso uma inspeção rotineira era necessário. E por isso os aficionados por Jeep de hoje também acabam se transformando em especialistas em suspensão, motor, e elétrica de seus Jeeps.

O Jeep Willys 

Este Jeep, “guerreiro” de fato, surgiu em 1941 produzido pela Willys, mas logo em seguida a Ford foi autorizada a produzi-lo devido a demanda exigida pela segunda guerra mundial. O fato de se escolher uma fábrica gigante para produzir um veículo de outra bem menor, prova o sucesso que o Jeep já fazia. Afinal, ali estava o eleito para ser um veículo de guerra, o que atestava sua força e durabilidade. Com o passar do tempo, e das guerras, este dinossauro conquistou muitos apaixonados por trilhas ou por aventuras nas melhores estradas do Brasil: as estradas de terra. Para isso o Jeep “nasceu”, então nada melhor do que unir a antiga utilidade ao moderno desejo de aventuras cheias de adrenalina.

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Características do Jeep (modelo 5224)

 Peso

  • 1205 quilos.
  • 1881 quilos (bruto carregado).

Dimensões

  • Distância do solo: 20 centímetros.
  • Distância dos eixos: 2,05 metros.
  • Largura: 1,82 metros.
  • Comprimento: 3.34 metros.
  • Altura: 1,70 metros.

  Outros

  • Combustível: gasolina.
  • Capacidade do tanque: 40 litros.
  • Água (motor, radiador) : 10,40 litros.
  • Óleo: 5,6 litros.

Motor (Bf-161) Willys

  • Longitudinal.
  • Cilindros: 6 (cabeçote e coletor da admissão são peça única).
  • Potência: 90 Hp a 4000 RPM (rotações por minuto do virabrequim do motor).
  • Temperatura de funcionamento: 80 a 90 graus.
  • Ordem de ignição (cabos de velas e seus cilindros) : 1-5-3-6-2-4.
  • Consumo: de 5 a 6 quilômetros por litro, um verdadeiro “bebedor”.
Foto: www.4x4brasil.com.br

Foto: www.4x4brasil.com.br

 

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Muitas foram as adaptações, que transformaram os Jeeps em supermáquinas. Na foto acima vemos um alternador Bosch (peça prateada), obviamente adaptado, pois o original era um da marca  Wapsa ou até um gerador em vez de alternador (semelhante ao do Fusca), como mostra a foto abaixo (peça com três fios pequenos em cima) de um motor 1941 original e quase intocado. Esta mudança melhorou muito o desempenho elétrico do Jeep, o que foi muito necessário devido as condições especiais de uso do carro e que ocorrem até os dias de hoje. Qual é a diferença entre uma alternador e um gerador? O gerador é um primo mais moderno do antigo dínamo, mas mesmo assim é preciso acelerar o motor para carregar a bateria. Já o alternador, como o Bosch da foto mais acima, consegue carregar uma bateria na marcha lenta. Fica óbvio a diferença de capacidade de energia entre os dois. E ficar sem bateria por falta de energia no meio do mato não deve ser muito agradável.

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Obviamente que a palavra segurança não se aplica ao Jeep antigo. Mas era o que se tinha na época. Não se pensava muito em segurança dos ocupantes, pois as velocidades eram diferentes e pouco se pensava em acidentes, embora acontecessem. O culpado era sempre o motorista e sua imprudência estilo James Dean, símbolo da rebeldia da juventude da época (atuou em Juventude Transviada), que morreu em um acidente dirigindo seu Porsche 550. Mas isto é outra história. No teatro de uma guerra do século passado, as blindagens eram raras e ineficientes. Então, nada melhor do que espaço de sobra para um salto desesperado diante de um bombardeio ou uma eminente bala de canhão. E acredite: os soldados eram treinados para este salto do Jeep que poderia salvar sua vida. Outros tempos, outras formas de pensar em segurança. Existem, porém,  no mercado, alguns kits de suspensão para o o Jeep e Rural que oferecem alguma modernidade principalmente para uso em trilhas, o tal lugar preferido dos aficionados por Jeep. Mas a segurança pouco muda com estes kits, que anunciam mais durabilidade ou uma melhora no desempenho em “escalar” pequenos morros de terra.

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Dizem que os carros mais antigos eram mais românticos, verdadeiras fontes contaminantes de prazer. Algo diferente do que se chama hoje de “prazer no dirigir”. A emoção era mais pura, embora bem mais perigosa. Mas foi assim, por estes motivos, que surgiram as competições automobilísticas que hoje são grandes eventos, inclusive de tecnologia. Dos pegas amadores para a Fórmula um. De James Dean e Senna, a Schumacher e Hamilton.  Assim caminha a humanidade e suas máquinas maravilhosas.